terça-feira, 13 de outubro de 2009

Atentando para a hospitalidade

Uma das principais características dos cristãos é a hospitalidade e em virtude disso não acredito que seja possível nos considerarmos cristãos enquanto negligenciamos ou pouco nos sujeitamos ao aperfeiçoamento deste atributo em nós. A verdade é que a hospitalidade é para a igreja o mesmo que o sangue é para o coração, se não houver sangue não haverá a mínima possibilidade do coração exercer sua função com excelência.
Lembro-me de muitas ocasiões em que fui hospedado na casa de irmãos, até então desconhecidos,  enquanto realizava algum trabalho missionário em suas cidades e confesso que na maioria das vezes pude verdadeiramente me sentir parte da família daquelas pessoas embora nunca os tivesse visto antes. Lembro-me ainda que foram poucos os lugares onde poderia dizer que não fui muito bem acolhido e ironicamente estes lugares geralmente eram casas de pastores, pois é.
Ao longo da bíblia somos ensinados a zelar por esta virtude, mas precisamos estar conscientes de que não se trata de uma mera atitude religiosa, como se fossemos obrigados por um tipo de lei, devemos sim, em amor, oferecer hospitalidade, principalmente nos dias de hoje, quando o individualismo está tão predominante e os muros que separam as casas estão cada vez mais altos. Pedro escreve em sua primeira carta no capítulo quatro, versículo nove, o seguinte: “Sede hospitaleiros uns para com os outros, sem murmuração”. A expressão “sem murmuração” esclarece claramente que tal atitude não deve ser manifesta de forma hipócrita, mas sim com prazer e disposição em servir, logo seria correto dizer que a hospitalidade é tanto o doar a si mesmo quanto o colocar seus recursos a disposição de outros, e penso que este segundo ponto seja o maior impedimento para que hoje muitos cristãos deixem de ser hospitaleiros e isso choca profundamente com as atitudes do próprio Jesus que jamais omitiu algo se si mesmo em prol do servir a outros, sendo assim, como cristãos, devemos saber que oferecer hospitalidade talvez seja a forma mais prática de demonstrarmos amor e além do mais, exercer hospitalidade, contribui diretamente com a verdade na qual fundamentamos nossa fé.(3João 3:5-8)
Em Mateus 25:35, encontramos que ao servir a outros e ao, por exemplo,  oferecermos pouso a desabrigados, é como se o estivéssemos fazendo diretamente ao Senhor. Em Romanos 12:13, Paulo nos instrui a compartilharmos os que temos com nossos irmãos em suas necessidades e em Hebreus 13:2 somos mais uma vez alertados a não nos esquecermos da hospitalidade. Se dermos a devida atenção a estes textos saberemos que qualquer um que se preocupa com estas coisas demonstra estar disposto realmente a morrer para que Cristo viva nele. É exatamente para isso que estamos aqui, para impactar o mundo através de uma vida vivida debaixo de princípios e atitudes que aprendemos do nosso Mestre com o único objetivo de que Ele seja conhecido por todos estes, que mergulhados em egoísmo, aguardam a manifestação dos filhos de Deus.
Creio que foi através deste e de muitos outros princípios vividos pela igreja primitiva o que possibilitou que milhares de pessoas fossem atraídos para o evangelho de Jesus naqueles dias, e hoje como igreja precisamos resgatar isso. Quando lemos o livro de Atos e vemos aqueles irmãos tendo tudo em comum, partindo o pão de casa em casa e Deus acrescentando diariamente novos irmãos àquela grande família, não há como deixarmos de desejar estas coisas, por isso, a igreja precisa voltar a ser identificada em meio as famílias, no contexto de suas próprias casas, onde a vida naturalmente acontece. O que eu realmente pretendo dizer através deste artigo é o que vem agora. Entendo que há muitas razões pelas quais os primeiros cristãos optaram por ser uma igreja que não se importou em construir templos, mas que se multiplicava de casa em casa, mas em específico quero citar uma destas razões e para isso precisamos entender um pouco da tradição judaica. De forma breve, precisamos saber que para um judeu convidar alguém para entrar em sua casa, se assentar a mesa e participar de uma refeição com ele, no mínimo o convidado deveria estar sendo investigado há algum tempo para se saber o máximo possível sobre sua fé e caráter. Esta é uma das razões pelas quais muitos se escandalizavam quando viam Jesus entrando na casa de publicanos e gentios e comendo com eles. O fato é que,  para um judeu, trazer alguém para dentro de sua casa, não só indica que ele está aberto a um nível de intimidade muito maior, o que demonstra o quanto ele deseja compartilhar a sua vida, mas também em sua tradição, segundo uma conversa que tive recentemente com o Stan, um irmão em Cristo, quando um judeu recebe alguém em sua casa e este é alimentado, ele deve também oferecer segurança para tal pessoa por pelo menos o tempo em que esta pessoa permanecer com o alimento dentro dela, ou seja, mais ou menos umas 30 horas. Eu sei que isso parece um pouco estranho, pelo menos foi o que achei quando o Stan compartilhou comigo sobre isso, mas o fato é que, todo aquele que se prontifica a receber alguém em sua casa deveria se sentir tão honrado quanto a própria pessoa que está sendo recebida, pois segundo o verdadeiro cristianismo toda a oportunidade de servir é sinônimo de honra, bem como o dar é sempre melhor do que o receber. Comecei a refletir sobre isso com mais atenção quando reli o texto de Apocalipse 3:20 quando Jesus diz: “Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Agora, conhecendo mais um pouco da tradição judaica, posso claramente entender que o que Jesus esta dizendo aqui é que Ele deseja ser um amigo íntimo e que deseja que compartilhemos toda a nossa vida com Ele, da mesma maneira como Ele mesmo se deu a nós sem restrições. Outra coisa que também aprendo como igreja, é que, se eu não abro a porta da minha casa com alegria, principalmente,  para os meus irmãos em Cristo é certo que sou alguém que não está muito interessado em compartilhar intimamente a minha vida com outros  e tal atitude evidencia somente uma coisa, não estou interessado em comunhão real. Sabemos que pessoas que se relacionam apenas através de encontros superficiais e esporádicos estão longe de atender um dos principais quesitos para o SER IGREJA, a comunhão real, logo fica fácil notar quão longe da realidade cristã estão todos aqueles que se mostram satisfeitos com meros momentos de confraternização, que acontecem em dias e hora pré-programados onde não correm risco algum de serem verdadeiramente conhecidos e a única razão para tal conformismo é que assim fica muito mais fácil aparentar ser o que não são.
Já no ambiente familiar tudo é posto a prova, cada palavra, pensamento, afirmação ou mesmo as mais sutis intenções do coração, com o tempo passam a ser conhecidas de todos, pois aonde se preza por verdadeira comunhão não há como maquiar a verdade ou escondê-la atrás de máscaras.
Finalizando, se você têm a sua casa como sendo o seu lugar seguro e íntimo e não deseja fazer dela uma estrutura que te impede de ser um cristão, então passe a se dedicar em servir a outros, compartilhando segurança, transparência e acima de tudo verdade, principalmente para com os da família da fé. Lembre-se que a bíblia diz que muitos por se dedicarem a hospitalidade, sem saber hospedaram anjos, então fique atento e não perca mais estas oportunidades preciosas, pois alguém pode bater em sua porta ainda hoje.


Luciano Silva

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